Por Mariana Puga
Tem dois lados e dois homens no filme. E muitos dados definidos por oposição quase simétrica que dão para pressentir a existência de um eixo que atravessa muitos pontos sensíveis antes de se representar num muro meeiro – tijolo a mais, tijolo a menos –. Leonardo e Victor. Vizinhos que habitam universos encontrados. Cara e cruz de distinta moeda.
O Um: jovem designer bem sucedido, famoso devido a uma cadeira meio futurista, sem arestas, ergonômica, aerodinâmica, etc. Expõe em bienais internacionais e leciona na faculdade. Esnobe, técnico-especialista nas formas, fala vários idiomas, até alemão: é homem de discurso, mas não de palavra. Incapaz de se comunicar com a própria familia, não trepa com a mulher, não entende à filha nem tenta, não dança, quase não age. Mata no final, mas sem ação: deixa morrer. Tem empregada paraguaia, carro francês e casa internacional. A sua casa é a Curutchet – a única que fez Le Corbusier na América Latina em La Plata, Argentina. Peça de altíssima qualidade arquitetônica, casa-objeto-de-arte recheada de obras de arte e de móveis assinados. De que lado está ele? Do visível, quase da pura e só visibilidade, poderia se-dizer. Do lado da luz. Da câmara. Da superfície lisa e branca do muro sem espessura, sem buraco, sem passagem à profundidade. Do lado das normativas, da academia, das formas. (mais…)