Leonora Corsini
Passado o impacto do primeiro turno, quando Dilma deixou de ser eleita por uma pequena margem em relação ao seu principal oponente, justamente pela expressiva votação obtida pela candidatura de Marina, começou a ganhar corpo uma questão: o voto do eleitorado feminino iria favorecer a postulante mulher? Logo as primeiras pesquisas apontavam algo curioso: entre o eleitorado feminino, 43% indicavam intenção de votar em Dilma e 43% no Serra. Ou seja, no corte de gênero, não foram as mulheres que garantiram vantagem a Dilma, ela teve maior votação entre eleitores homens. E, tal como na divisão do Brasil entre vermelhos e azuis que tentaram nos empurrar, também não se pode falar de uma vitória “cor de rosa”, ou “lilás”.
Isto é algo que faz pensar. Será que a maioria das mulheres acha que deve votar em candidata mulher, só por ser mulher? Aparentemente não, pelo menos é o que parece dizer o resultado das urnas. Mas só posso falar por mim, e quanto a mim, eu defendo a luta das mulheres, como defendo um feminismo não essencialista, e minha escolha não se deveu ao fato de Dilma ser “uma mulher” presidente do Brasil, mas por ela ser “uma mulher” que está conectada com uma diversidade de mulheres – negras, índias, homossexuais, crentes, não crentes, mães de santo, nordestinas, trabalhadoras, militantes, intelectuais, donas de casa… – o que se expressa na singular trajetória de vida dela, e que foi brilhantemente resumido na frase com a qual a então candidata encerrou o primeiro debate na televisão após o primeiro turno: “estamos preparadas para sermos presidentas do Brasil!”
A nossa campanha Dilma é Muitos expressou maravilhosamente esta ideia, e acho que também poderia ser usada para mostrarmos o quanto é importante um devir-mulher também das mulheres, para além da afirmação de uma identidade feminina.